Desde o governo de Donald Trump, as relações entre Estados Unidos e China estão desgastadas. Seja pela tentativa estadunidense de atrair novamente suas empresas que estabeleceram manufatura no país asiático, seja pelo aumento de tarifas de importação de produtos vindos de lá para os EUA, a questão é que o crescimento econômico e a influência chinesa pelo mundo preocupam e incomodam o Tio Sam.
Numa tentativa de apaziguar as relações e, eventualmente, buscar uma mudança na postura chinesa em relação aos ataques russos na Ucrânia, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, tinha uma viagem marcada a Pequim. Os planos dos EUA e de Blinken foram adiados indefinidamente após um misterioso balão aparecer no céu do estado de Montana no dia 2 de fevereiro. Para o Pentágono, tratava-se de um “balão de vigilância chinês de alta altitude”. O Ministério das Relações Exteriores da China, no entanto, afirmou que o balão era um dirigível civil utilizado para fins de pesquisa meteorológica, e que se desviou da rota.
O artefato que sobrevoava o céu dos Estados Unidos tinha – segundo o governo do país – um tamanho de aproximadamente três ônibus escolares e sobrevoava a uma altitude de cerca de 18.600 metros. Para se ter uma ideia, isso é aproximadamente de 6 a 8 quilômetros mais alto do que a altitude padrão de voos comerciais. Além disso, a altura do item era de 61 metros, o equivalente a um prédio de 25 andares.
Três dias após o surgimento do artefato nos céus da região norte dos EUA, o balão foi abatido por um míssil de curto alcance disparado por um caça da Força Aérea. Seus destroços caíram no Oceano Atlântico, na costa do estado da Carolina do Sul, e foram prontamente recolhidos pela Marinha. A identificação do balão deu-se quando do sobrevoo pelo estado de Montana – onde se localiza a base aérea de Malmstrom, que abriga pelo menos uma centena de mísseis balísticos intercontinentais.
Após a derrubada do item, os chineses manifestaram "forte insatisfação e protesto contra o uso da força pelos EUA para atacar aeronaves civis não tripuladas". Logo a seguir, a Força Aérea colombiana também confirmou ter avistado um balão semelhante em seu espaço aéreo. Tanto o uso desse tipo de artefato quanto sua presença em distintos lugares do planeta dão claros sinais de que os chineses estão mantendo o mundo em vigilância. Para o Departamento de Defesa dos EUA, os chineses operam esses balões em cinco continentes. Com ou sem balão, meteorológico ou não (provavelmente não), esse é mais um capítulo que desgasta e coloca em rota de colisão as duas maiores economias do planeta. Que os destroços desse choque não cheguem até nós.
*João Alfredo Lopes Nyegray é doutor e mestre em Internacionalização e Estratégia. Especialista em Negócios Internacionais. Advogado, graduado em Relações Internacionais. Coordenador do curso de Comércio Exterior na Universidade Positivo (UP). Instagram: @janyegray