Estamos em ano eleitoral e as articulações para a formalização das chapas presidenciais estão a pleno vapor. O prazo para os partidos políticos realizarem suas convenções e definir os candidatos é 15 de agosto, e até lá, muitas coisas ainda podem acontecer. Uma das decisões que mais chama a atenção na definição da chapa presidencial é a complicada escolha do candidato a vice.
O vice é aquela peça fundamental nas articulações com uma possível coligação de partidos, mas, ao mesmo tempo, tem o papel de ser uma figura coadjuvante dentro do mandato presidencial. Foi assim com Marco Maciel, vice de FHC, e José Alencar, vice de Lula. Mas, também pode ser uma figura duvidosa e ameaçadora, capaz de mover a articulação para se afastar do seu titular, como foi Temer no governo Dilma e Itamar no mandato de Collor. De toda forma, qualquer candidato aos cargos do Executivo tem a exigência de indicar seu substituto em situações de impedimento, afastamento e substituição segundo o texto constitucional.
Em 2022, o papel do vice se torna fundamental, principalmente para a campanha de Lula, que busca a reconciliação com o eleitorado e com a classe política, e, ao que tudo indica, a escolha por Alckmin, ex-governador de São Paulo e adversário tucano nas eleições presidenciais de 2006 e 2018, é certa. Espantosa para alguns, mas não tão improvável para outros, a escolha de Alckmin vem com o objetivo de uma aproximação com setores conservadores do Congresso Nacional, aliada à capacidade técnica e política do ex-governador que sempre foi um astuto articulador. Lembrando que o alinhamento de Lula e Alckmin tem um ar de vingança do ex-tucano, que foi colocado de lado no PSDB após o fracasso da campanha presidencial de 2018, e rebaixado ao segundo escalão pelo seu antigo aliado político, o presidenciável e atual governador João Dória. Sem dúvida que a chapa é forte e coloca lado a lado dois políticos experientes que estão em busca de uma redenção das suas histórias.
A chapa Bolsonaro ainda está longe de ser definida, não por falta de interessados, mas pelo ímpeto do presidente, que mostrou não ser muito adepto à figura dos vices. O general Mourão, atual vice-presidente, teve papel político nulo no governo, sem experiência política e voz para se destacar, serviu de manobra para o presidente, que fez questão de dizer que seu papel seria minúsculo dentro do governo. Mourão perdeu para a ala ideológica, para a ala militar e nunca foi capaz de articular politicamente. Aparentemente, o general serviu de aval para setores militares apoiarem, de forma escancarada, a candidatura de Bolsonaro, que o abandonou no insignificante Conselho da Amazônia logo em seguida. Bolsonaro tem em Tereza Cristina (União/MS), atual ministra da Agricultura, e no general Braga Netto, ministro da Defesa, seus possíveis vices. Cristina é figura conhecida no Congresso Nacional e defensora do setor produtivo rural, e, alinhada ao bolsonarismo, a ministra pode ser interessante para possível articulação com o centrão e setor produtivo. Já Braga Neto tem livre acesso aos setores militares, base de apoio do atual presidente, mas não é nada democrata e não tem capacidade de articulação. A escolha pelo general é um aceno forte ao golpismo, tão constante no governo Bolsonaro. Outras possibilidades correm por fora, como Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, ligada à bancada evangélica, e alguns parlamentares do centrão. Tudo indica que Bolsonaro vai esperar agosto chegar para indicar seu vice.
As demais candidaturas ainda patinam e escolhem saídas para o favoritismo de Lula e Bolsonaro. João Dória (PSDB), cada vez mais encurralado pelo próprio partido, vê sua candidatura presidencial naufragar. Ciro Gomes (PDT) não consegue angariar partidos para sua coalizão e provavelmente vai buscar uma solução caseira para vice. Sérgio Moro (Podemos) tenta emplacar sua candidatura, mas tropeça nas próprias falas. Tudo indica que uma aproximação com a ala minoritária do MDB e Simone Tebet de vice pode ser possível.
De qualquer forma, a eleição de 2022 ainda tem muitos capítulos pela frente e reviravoltas impressionantes que podem acontecer. A escolha dos vices é apenas uma das emoções que vamos experimentar.
*Francis Ricken é advogado, mestre em Ciência Política (UFPR) e professor da Escola de Direito e Ciências Sociais da Universidade Positivo (UP).