Resultado preliminar de estudo goiano aponta que não existe relação da tipagem sanguínea com casos graves da Covid-19 (Foto: Shutterstock) |
Vários países estão pesquisando sobre o tema, mas não há unanimidade sobre conclusão. Hematologista fala sobre o assunto e estudo goiano
Desde
o início da pandemia de Covid-19, cientistas em todo mundo investigam
as diferentes maneiras que o vírus SARS-CoV-2 afeta o organismo humano.
Parte dessas pesquisas considera se os diferentes grupos sanguíneos (A,
B, AB e O) podem ter papel relevante diante da Covid-19. Várias
pesquisas estão sendo feitas sobre o assunto em diferentes países, mas
não há consenso entre a comunidade científica, até o momento, sobre a
relação entre os diferentes tipos de sangue e questões-chave como a
capacidade de infecção pelo vírus, o agravamento da doença e o risco de
morte.
No Brasil não é diferente e estudos sobre o tema estão
sendo realizados, um deles pelo Hemocentro de Goiás (Hemogo). Uma das
médicas que participa da pesquisa no Estado é a hematologista Maria
Amorelli, que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia. Ela
explica que o estudo é um braço de outro, que analisa o plasma
convalescente (doado por recuperados da Covid-19) para auxiliar na
recuperação daqueles que ainda estão com a doença. “Analisamos o sangue
de 98 doadores de plasma convalescente e fizemos uma relação para saber a
gravidade que o vírus os infectou e o tipo sanguíneo”, detalha.
Ao
contrário de outros estudos, como o do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SP), que avaliou 72 pessoas e
indicou que as aquelas do tipo sanguíneo A possuem um risco 2,5 vezes
maior de gravidade para o coronavírus, na comparação com tipo O, a
pesquisa goiana não teve essa identificação. "Dos 98 pacientes, a
maioria era do tipo sanguíneo O, e em segundo lugar, do tipo sanguíneo
A que é a distribuição na nossa população. Essa ideia de que todos os
pacientes que não têm o anticorpo anti-A estariam em maior risco, a
gente não conseguiu confirmar", explica Maria Amorelli.
Na
avaliação de quadros graves, a equipe descobriu que a maior prevalência
era de pacientes com sangue tipo AB, enquanto nenhum paciente do tipo
sanguíneo A precisou de internação, indo de encontro aos resultados de
outros estudos, como um conduzido por pesquisadores da Universidade de
Utah, do Intermountain Medical Center Heart Institute e da Universidade
de Stanford, nos Estados Unidos, que considerou cerca de 107 mil
pacientes, revelou que o tipo sanguíneo não está associado a um maior
risco de contrair Covid-19.
Mais pesquisas
Maria
Amorelli acredita que um dos fatores que não permitiram a pesquisa do
Hemogo ter uma conclusão definitiva foi o número pequeno de pacientes
avaliados. “Outra questão é que a população de doadores é mais
selecionada, em geral, pacientes do grupo O têm mais tendência a doar,
porque têm aquela ideia de que este é o melhor sangue para a doação.
Então precisamos de mais estudos”, conclui ela, ressaltando que a
literatura médica ainda não conseguiu confirmar a associação entre tipo
sanguíneo e risco para Covid-19.
A médica salienta que não é o
momento das pessoas se preocuparem com o tipo sanguíneo que possuem.
“Precisamos de mais estudos, não se pode introduzir nada relacionado a
isso na prática clínica. Pacientes de qualquer tipo sanguíneo ainda não
devem se preocupar. Muitos já estão chegando no consultório e
perguntando se por ser do tipo A são do grupo de risco e ainda não é a
questão de modificar uma conduta em relação à isso”, explica a
hematologista.
“Outros fatores de risco têm um peso muito maior e
mais importância, como doença coronariana, trombose prévia, diabetes.
Várias pessoas do tipo A não precisaram internar, tiveram uma doença
leve, sem complicações, e várias pessoas do tipo O tiveram doenças mais
graves também. Hoje em dia, esses estudos servem para a gente melhorar
nosso conhecimento sobre o genoma viral, para poder construir drogas
melhores, drogas alvo na nossa luta contra o vírus, mas ainda não deve
ser motivo de preocupação”, destaca Maria Amorelli.
Hematologista
Maria Amorelli ressalta que não é o momento das pessoas se preocuparem
com o seu tipo sanguíneo, mas seguirem com as medidas de prevenção
contra o coronavírus (Foto: Arquivo pessoal) |